A condromalácia patelar na corrida de rua pode ser um fator altamente limitante.

A quantidade de pessoas que ingressam na corrida de rua nos dias atuais tem aumentado de maneira crescente. O que se tem visto hoje é uma verdadeira “enxurrada” de pessoas correndo em parques, orlas de prais, algumas, inclusive tornando-se praticantes de esportes de endurance extrema como a ultramaratona, trail running, triathlon, corrida de aventura, etc.

Condromalácia patelar na corrida de rua, como ela ocorre?

 

Na corrida, assim como em outras modalidades, a maior parte das lesões estão relacionadas aos “micro-traumas” de repetição, nos quais tecidos sadios são submetidos a carga cíclica supra-fisiológica, rompendo o equlíbrio destruição e regeneração celular.

O joelho é uma articulação que trabalha próximo a seus limites fisiológicos. Qualquer  sobrecarga mecânica, tanto por um treino esportivo,  quanto pelo trabalho ou atividades do dia a dia podem desencadear quadro de dor e inchaço, às vezes de difícil controle.

+ 10 dicas para o retorno ao esporte em quem tem condromalácia

Nas atividades da vida diária e na corrida, a principal função do aparelho extensor do joelho, composto pela patela, musculo quadríceps e tendão patelar é a de desacelerar o corpo, absorvendo energia cinética. Isso ocorre em mili-segundos apos o corredor tocar o solo e é feito por um mecanismo denominado contração excêntrica, na qual o músculo contraído alonga-se contra resistência.

Quando existe predisposição individual, fraqueza e desequilíbrio muscular, valgo dinâmico, comum em mulheres, somado a sobrecarga mecânica do esporte ou excesso de escadas no dia a dia, ou salto alto, a energia que seria dissipada pela massa músculo-tendínea passa para a articulação, desencadeando lesão. Quando atinge o tendão patelar, por exemplo, temos a tendinite patelar, mas quando atinge a cartilagem de contato entre a patela e o fêmur poderemos ter a condromalácia.

Sabe-se, desde a época de Hipócrates que a cartilagem articular lesada de potencial de cicatrização muito limitado. Isso se deve às propriedades histológicas do tecido cartilaginoso que, ao contrário da maioria dos tecidos do corpo, possui pouquíssimas células (hipocelularidade), não possui vasos sanguíneos (avascularidade), é aneural, ou seja, não possui terminações nervosas e é riquíssimo em água. Consequentemente, uma vez lesada, a reação inflamatória é muito pequena e a possibilidade de reparo, quase nula.

 

Que corredor esta sujeito a condromalácia patelar?

 

Em tese, qualquer pessoa pode vir a desenvolver a condromalácia patelar o, mas estudos recentes têm demonstrado que algumas características individuais do aparelho locomotor de cada pessoas pode predispor ao desenvolvimento da lesão. Isso incluiria pisada muito pronada ou supinada, joelhos em “x” ou arqueados, angulação e rotação anormais entre os ossos do quadril, diferença de comprimento dos membros e, principalmente enfraquecimento e encurtamento de grupos musculares, gerando desequilíbrio entre músculos agonistas e antagonistas.

Algumas profissões e atividades esportivas estão mais sujeitas à lesão. Dirigir muito, muito tempo sentado com joelhos flexionados, excesso de escadas são fatores relacionados.

As mulheres parecem estar especialmente em risco de desenvolvê-la. O salto alto, que mantém  o joelho em constante desaceleração e um fator importante, mas estudos têm também indicado um funcionamento diferente do joelho masculino.

 

Sinais de alerta

Os sinais de alerta de má evolução de uma condromalácia em um corredor de rua envolvem:

  1. Aumento da dor durante o treino;
  2. Persistência da dor em atividades da vida diária;
  3. Inchaço no joelho;
  4. Dor muscular associada;
  5. Atrofia do músculo anterior da coxa (quadríceps).

 

Condromalácia patelar avançada em um corredor de rua, vista em uma artroscopia de joelho.

 

Tratamento para condromalácia patelar para corredores de rua

Assim como para qualquer atividade física, acredito que o indivíduo deve primeiro conhecer seu aparelho locomotor, em seguida melhorar o condicionamento físico e, a seguir iniciar-se no esporte.

Frente a um quadro de sobrecarga femoropatelar com ou sem o amolecimento cartilaginoso, sou particularmente partidário da reabilitação fisioterápica, seguida pelo trabalho de fortalecimento e reequilíbrio muscular. Havendo alívio das dores, “devolvemos” aos poucos o paciente de volta ao esporte. Isso, obviamente, sob contato contínuo e harmonioso entre o treinador e profissionais da saúde.  Finalmente, em raros casos refratários, realizamos o tratamento cirúrgico através da artroscopia do joelho.

 

Como prevenir a condromalácia patelar sendo corredor?

Assim como outros esportes, a prevenção da condromalácia na corrida tem o seu tripé:

Conheça seu corpo!

O exame do aparelho locomotor envolve a avaliação dinâmica da pisada, também conhecida como baropodometria com a prescrição de palmilha se necessário, alinhamento dos membros e desvios posturais, discrepância do tamanho dos membros, conhecida no meio médico como dismetria.

Saiba sobre seu equilíbrio muscular dos grupos musculares que executam o movimento (agonistas) e os que resistem (antagonistas). Para isso, utilizamos da chamada avaliação isocinética .

+ Existe espaço para o tratamento não cirúrgico ao ligamento cruzado anterior?

Prepare-se para a corrida!

É o condicionamento físico para determinado esporte, realizado por um preparador físico experiente e, se possível, observado por um fisioterapeuta.

Para esportes de envolvem desacelaração repetitiva  dos membros inferiores como a corrida de rua, o treinador focará no fortalecimento excêntrico do quadríceps, ou seja na capacidade do músculo anterior da coxa contrair contra a resistência a fim de se absorver energia cinética, poupando as articulações.

Realize a preparação técnica para a corrida!

Realizada, imprecindivelmente sob a tutela de um preparador fisico especializado em corrida,trata-se do conhecimento técnico do esporte  e envolvem as planilhas de treinamento, postura e progressão do indivíduo no esporte para ganho de resistência fisica ou para a competição.

Esta fase serve, basicamente, para que o treinador dose o desempenho do atleta no esporte a fim de se evitar sobrecargas de volume ou intensidade no treino. É muito comum que um corredor de rua que treina sem supervisão, por exemplo corra 10 a 20 km em dias seguidos e ao final de determinado tempo, desenvolva lesões.

Enfim, a conscientização do corredor de que a equipe multidisciplinar deve avaliá-lo e acompanhá-lo durante o período de treinamento evita lesões e pode maximizar o rendimento, fazendo com que o esporte atinja seu objetivo básico: a promoção de saúde.

 

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10 Comentários

  1. Bim dia!
    Sou portadora de contratai patear bilateral e gostaria de agradecer pelo texto tão rico e completo que acabo de ler!
    Grata, Pietra

  2. Há um ano fiz uma cirurgia de alinhamento da patela, pois qualquer movimento brusco que eu fizesse deslocaria para a esquerda causando dores intensas. Parabenizo pelo importantíssimo e esclarecedor texto em questão. Estou em treinamento para corridas de rua e TAF. Preciso me recuperar o mais rápido possível. Muito Obrigado.

  3. sinto dores nos meus joelhos, qdo curvo ouço um chiado parece q falta algo p lubrificar. gostei muito dessa materia. obgda parabéns dr.

  4. Fui diagnostica com Condromalacia. Estou em tratamento no meu caso a genética ajudou eu ter essa inflamação. Não vejo a hora de poder voltar as corridas.

    Excelente matéria.

  5. Boa tarde Dr. Adriano, gostaria de saber o que o Sr. Acha da suplementação com o Colageno do tipo 2, ou o chamado UC-II. Ajuda no tratamento da Condromalacia Avançada.

    1. Oi Rogério
      não existe nível de evidência suficiente para provar que essa medicação vir oral vá alterar a evolução de uma doença cartilaginosa .
      A única medicação que parece alterar a evolução da doença é a infiltração intra articular de ácido Hialurônico

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