Artrose e condropatias: o novo hidrogel funciona?

Será que o hidrogel é mesmo o avanço que vai salvar suas articulações — ou só mais uma promessa moderna que parece boa demais para ser verdade? Será que o a infiltração com hidrogel funciona para a Artrose? Ou será que ele funciona para as condropatias no geral?

Cada vez mais comentado em consultórios e nas redes sociais, o hidrogel vem sendo apresentado como uma evolução do ácido hialurônico: mais duradouro, mais eficaz e mais completo. Há até quem diga que uma única injeção seria capaz de aliviar a dor da artrose por até dois anos. Mas será que isso é verdade para todos os casos — ou estamos lidando com mais expectativa do que realidade?

Como todo tratamento novo, o hidrogel levanta uma dúvida legítima: ele realmente funciona para todo mundo? E mais importante: funciona no seu caso?

Aqui te ajudarei a entender de forma simples e direta o que o hidrogel realmente faz, quando ele pode ser uma boa opção — e, principalmente, quando ele pode não ser o melhor caminho. Porque mais do que seguir a novidade do momento, o essencial é escolher um tratamento que funcione pra você.

Artrose e condropatias: o novo hidrogel funciona?

O que são condropatias?

Condropatia é o nome dado às doenças da cartilagem, o tecido que reveste nossos ossos dentro das articulações. Essa cartilagem funciona como um amortecedor: dissipa a energia dos movimentos e evita o contato direto entre os ossos.

Um exemplo comum é a condromalácia patelar, que ocorre com mais frequência em mulheres. Quando diagnosticada em homens, é importante investigar possíveis causas anatômicas ou microtraumas repetitivos. Outro exemplo, é a artrose, um processo de desgaste crônico da cartilagem.

lesão de cacrtilagem condropatia

Essas lesões costumam surgir por:

  1. Má biomecânica dos movimentos
  1. Treinos sem orientação
  2. Uso inadequado de calçados
  3. Exercícios iniciados abruptamente, como no “projeto verão” ou em treinos competitivos de crossfit
  1. Envelhecimento natural

Quando a cartilagem sofre repetidas agressões, surgem microlesões que podem ser comparadas a buracos no asfalto. A cada impacto, esses buracos aumentam, gerando inflamação dentro da articulação (sinovite). Quando o osso subcondral — que fica logo abaixo da cartilagem — também adoece, entramos no estágio de artrose.

Primeiramente, vamos entender a diferença entre hidrogel bioativo e o ácido hialurônico

Inicialmente criado com o objetivo de apenas lubrificar as articulações, hoje o ácido hialurônico é reconhecido por um papel muito mais amplo: ele modifica o ambiente articular, atuando de forma ativa no controle da inflamação. Por isso, costumamos dizer que o ácido hialurônico é um “modificador de doença”.

Sua ação ocorre diretamente sobre receptores específicos da cartilagem, como o CD44, estimulando a produção de um líquido sinovial de melhor qualidade — importante para nutrir as células da articulação e também para manter a lubrificação articular. Portanto, o intuito do ácido hialurônico é:

  1. Aliviar a dor
  1. Melhorar a função da articulação
  1. Estimular a produção de líquido sinovial de melhor qualidade

Com isso, ele abre caminho para a fase mais importante do tratamento: a reabilitação ativa. Isso permite que o fisioterapeuta inicie o fortalecimento da articulação com menos dor e inflamação, preparando o paciente para uma etapa essencial — a prescrição individualizada de atividade física com um profissional de educação física, consolidando o resultado a longo prazo.

Lembrando que, apesar do ácido hialurônico ter um efeito comprovado pela ciência, o verdadeiro fator que bloqueia a progressão de qualquer doença articular degenerativa é a atividade física regular. E, acredite, isso tem mais evidência científica do que uma infiltração com ácido hialurônico.

Agora, vamos entender o que é o hidrogel bioativo e suas aplicações

O hidrogel nada mais é do que um ácido hialurônico modificado. Apesar de parecer recente, ele foi publicado pela primeira vez em 2011, pela Universidade de Pádova, na Itália.
O grande diferencial do hidrogel, em comparação ao ácido hialurônico tradicional, é que ele consegue preencher melhor os espaços onde há falhas na cartilagem e permanecer por mais tempo dentro da articulação. Isso faz com que ele tenha um efeito semelhante a um “colchão interno”, aumentando a proteção contra os impactos e melhorando a lubrificação por mais tempo. Ou seja, seus benefícios estão em:

  1. Permitir maior preenchimento dos defeitos cartilaginosos
  2. Permanecer mais tempo na articulação
  3. Proporcionar maior efeito “colchão” e maior resistência ao movimento

Na prática, isso significa que ele pode aliviar — e em alguns casos até eliminar — os sintomas da artrose ou de uma condropatia avançada, especialmente naqueles pacientes que queremos tratar sem precisar recorrer à cirurgia.

Essa tecnologia, conhecida como HYADD4-G, foi patenteada recentemente e, segundo alguns estudos, tem mostrado maior conforto para o paciente e uma menor necessidade de reaplicações frequentes. Ou seja, o alívio tende a durar mais, com menos intervenções ao longo do tempo. Abaixo segue o estudo realizado e para quem tiver interesse, ao final do artigo, deixarei o link do estudo publicado no PubMed.

Como é feita a aplicação do Hidrogel bioativo?

No consultório, utilizo o hidrogel com a seguinte estratégia:

  1. Duas aplicações por ano, com intervalo de 60 a 90 dias
  2. Em articulações profundas, como quadril ou tornozelo, faço a aplicação guiada por ultrassom
  3. Pode ser aplicado também durante cirurgias cartilaginosas
  4. Em casos de edema ósseo (evidenciado por processo de artrose avançada), pode ser injetado dentro do osso. Pode ser associado ou não a ortobiológicos, como o aspirado de medula óssea (técnica conhecida como matrix). A vantagem é que ao mesmo tempo você dará suporte ao osso que está afundando pela condropatia com o hidrogel e também dará estímulo para a regeneração do tecido com as células tronco presentes no aspirado de medula óssea.

Como avalio a eficácia, no meu consultório?

Antes de começar a usar o hidrogel, esperei sair estudos mais sólidos. Só depois disso ele passou a fazer parte da minha rotina aqui no consultório. Tenho tido resultados muito bons, mas sempre deixo claro: não basta aplicar e perguntar se o paciente melhorou.

Todos os meus pacientes que fazem infiltração preenchem um protocolo de avaliação e acompanhamento. No meu protocolo, cada paciente passa por:

  1. Avaliação clínica com escalas de dor e função
  2. Prescrição de fisioterapia e atividade física
  3. Reavaliação periódica com comparação de resultados

Se o paciente não alcança a melhora esperada, voltamos ao início do protocolo. Muitas vezes, reavaliamos a estratégia e até mudamos o tipo de tratamento. Ou seja, casos que inicialmente tentamos tratar sem cirurgia podem sim evoluir para uma indicação cirúrgica. Nesses casos, o ácido hialurônico e o hidrogel funcionam como grandes triadores — nos ajudam a entender quem vai responder bem ao tratamento conservador e quem não vai.

Já quem melhora, segue com a prescrição de atividade física personalizada e passa por reavaliações anuais, principalmente com testes musculares, para garantir que continue forte e funcional.

Sempre levanto essa bandeira com todos os meus pacientes: a base de tudo é o movimento. A atividade física é a melhor ferramenta que temos para manter a saúde das articulações.

Mas então, a infiltração com hidrogel funciona?

Quando bem prescrito, sim!

Vivemos uma cultura de novidade: tudo que é novo parece melhor. Mas a medicina exige ciência e cautela. Apesar de todo o entusiasmo, ainda não sabemos ao certo quais são os possíveis efeitos colaterais do hidrogel, nem se ele é realmente superior ao ácido hialurônico tradicional. O que temos até agora são estudos iniciais promissores, mas ainda não existem pesquisas robustas e comparativas que comprovem sua eficácia com segurança.

Por isso, não é possível abandonar completamente o uso do ácido hialurônico tradicional para apostar somente no hidrogel.

Além disso, tem algo que nunca vai mudar: a avaliação médica presencial e cuidadosa. É essencial que o médico examine o paciente com atenção, interprete bem os exames de imagem, converse com clareza e oriente de forma individualizada. Nada disso será substituído por robôs, algoritmos ou soluções automáticas.

E é nessa avaliação que muitas vezes percebemos que o paciente já está em estágio cirúrgico, e o hidrogel, por melhor que seja, não substitui uma cirurgia de um caso de artrose avançada.

Por isso, mesmo que o hidrogel pareça uma solução milagrosa, ele não substitui os tratamentos tradicionais como próteses ou osteotomias em casos mais avançados.

O que podemos afirmar com segurança é que o hidrogel tem potencial e certamente vai conquistar seu espaço na medicina — com mais estudos, regulamentações e uso consciente.

Quer mais detalhes? Para entender mais sobre o assunto, assista também ao vídeo abaixo, que está no meu canal do Youtube:

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