Será que o hidrogel é mesmo o avanço que vai salvar suas articulações — ou só mais uma promessa moderna que parece boa demais para ser verdade? Será que o a infiltração com hidrogel funciona para a Artrose? Ou será que ele funciona para as condropatias no geral?
Cada vez mais comentado em consultórios e nas redes sociais, o hidrogel vem sendo apresentado como uma evolução do ácido hialurônico: mais duradouro, mais eficaz e mais completo. Há até quem diga que uma única injeção seria capaz de aliviar a dor da artrose por até dois anos. Mas será que isso é verdade para todos os casos — ou estamos lidando com mais expectativa do que realidade?
Como todo tratamento novo, o hidrogel levanta uma dúvida legítima: ele realmente funciona para todo mundo? E mais importante: funciona no seu caso?
Aqui te ajudarei a entender de forma simples e direta o que o hidrogel realmente faz, quando ele pode ser uma boa opção — e, principalmente, quando ele pode não ser o melhor caminho. Porque mais do que seguir a novidade do momento, o essencial é escolher um tratamento que funcione pra você.

O que são condropatias?
Condropatia é o nome dado às doenças da cartilagem, o tecido que reveste nossos ossos dentro das articulações. Essa cartilagem funciona como um amortecedor: dissipa a energia dos movimentos e evita o contato direto entre os ossos.
Um exemplo comum é a condromalácia patelar, que ocorre com mais frequência em mulheres. Quando diagnosticada em homens, é importante investigar possíveis causas anatômicas ou microtraumas repetitivos. Outro exemplo, é a artrose, um processo de desgaste crônico da cartilagem.

Essas lesões costumam surgir por:
- Má biomecânica dos movimentos
- Treinos sem orientação
- Uso inadequado de calçados
- Exercícios iniciados abruptamente, como no “projeto verão” ou em treinos competitivos de crossfit
- Envelhecimento natural
Quando a cartilagem sofre repetidas agressões, surgem microlesões que podem ser comparadas a buracos no asfalto. A cada impacto, esses buracos aumentam, gerando inflamação dentro da articulação (sinovite). Quando o osso subcondral — que fica logo abaixo da cartilagem — também adoece, entramos no estágio de artrose.
Primeiramente, vamos entender a diferença entre hidrogel bioativo e o ácido hialurônico
Inicialmente criado com o objetivo de apenas lubrificar as articulações, hoje o ácido hialurônico é reconhecido por um papel muito mais amplo: ele modifica o ambiente articular, atuando de forma ativa no controle da inflamação. Por isso, costumamos dizer que o ácido hialurônico é um “modificador de doença”.
Sua ação ocorre diretamente sobre receptores específicos da cartilagem, como o CD44, estimulando a produção de um líquido sinovial de melhor qualidade — importante para nutrir as células da articulação e também para manter a lubrificação articular. Portanto, o intuito do ácido hialurônico é:
- Aliviar a dor
- Melhorar a função da articulação
- Estimular a produção de líquido sinovial de melhor qualidade
Com isso, ele abre caminho para a fase mais importante do tratamento: a reabilitação ativa. Isso permite que o fisioterapeuta inicie o fortalecimento da articulação com menos dor e inflamação, preparando o paciente para uma etapa essencial — a prescrição individualizada de atividade física com um profissional de educação física, consolidando o resultado a longo prazo.
Lembrando que, apesar do ácido hialurônico ter um efeito comprovado pela ciência, o verdadeiro fator que bloqueia a progressão de qualquer doença articular degenerativa é a atividade física regular. E, acredite, isso tem mais evidência científica do que uma infiltração com ácido hialurônico.
Agora, vamos entender o que é o hidrogel bioativo e suas aplicações
O hidrogel nada mais é do que um ácido hialurônico modificado. Apesar de parecer recente, ele foi publicado pela primeira vez em 2011, pela Universidade de Pádova, na Itália.
O grande diferencial do hidrogel, em comparação ao ácido hialurônico tradicional, é que ele consegue preencher melhor os espaços onde há falhas na cartilagem e permanecer por mais tempo dentro da articulação. Isso faz com que ele tenha um efeito semelhante a um “colchão interno”, aumentando a proteção contra os impactos e melhorando a lubrificação por mais tempo. Ou seja, seus benefícios estão em:
- Permitir maior preenchimento dos defeitos cartilaginosos
- Permanecer mais tempo na articulação
- Proporcionar maior efeito “colchão” e maior resistência ao movimento
Na prática, isso significa que ele pode aliviar — e em alguns casos até eliminar — os sintomas da artrose ou de uma condropatia avançada, especialmente naqueles pacientes que queremos tratar sem precisar recorrer à cirurgia.
Essa tecnologia, conhecida como HYADD4-G, foi patenteada recentemente e, segundo alguns estudos, tem mostrado maior conforto para o paciente e uma menor necessidade de reaplicações frequentes. Ou seja, o alívio tende a durar mais, com menos intervenções ao longo do tempo. Abaixo segue o estudo realizado e para quem tiver interesse, ao final do artigo, deixarei o link do estudo publicado no PubMed.

Como é feita a aplicação do Hidrogel bioativo?
No consultório, utilizo o hidrogel com a seguinte estratégia:
- Duas aplicações por ano, com intervalo de 60 a 90 dias
- Em articulações profundas, como quadril ou tornozelo, faço a aplicação guiada por ultrassom
- Pode ser aplicado também durante cirurgias cartilaginosas
- Em casos de edema ósseo (evidenciado por processo de artrose avançada), pode ser injetado dentro do osso. Pode ser associado ou não a ortobiológicos, como o aspirado de medula óssea (técnica conhecida como matrix). A vantagem é que ao mesmo tempo você dará suporte ao osso que está afundando pela condropatia com o hidrogel e também dará estímulo para a regeneração do tecido com as células tronco presentes no aspirado de medula óssea.
Como avalio a eficácia, no meu consultório?
Antes de começar a usar o hidrogel, esperei sair estudos mais sólidos. Só depois disso ele passou a fazer parte da minha rotina aqui no consultório. Tenho tido resultados muito bons, mas sempre deixo claro: não basta aplicar e perguntar se o paciente melhorou.
Todos os meus pacientes que fazem infiltração preenchem um protocolo de avaliação e acompanhamento. No meu protocolo, cada paciente passa por:
- Avaliação clínica com escalas de dor e função
- Prescrição de fisioterapia e atividade física
- Reavaliação periódica com comparação de resultados
Se o paciente não alcança a melhora esperada, voltamos ao início do protocolo. Muitas vezes, reavaliamos a estratégia e até mudamos o tipo de tratamento. Ou seja, casos que inicialmente tentamos tratar sem cirurgia podem sim evoluir para uma indicação cirúrgica. Nesses casos, o ácido hialurônico e o hidrogel funcionam como grandes triadores — nos ajudam a entender quem vai responder bem ao tratamento conservador e quem não vai.
Já quem melhora, segue com a prescrição de atividade física personalizada e passa por reavaliações anuais, principalmente com testes musculares, para garantir que continue forte e funcional.
Sempre levanto essa bandeira com todos os meus pacientes: a base de tudo é o movimento. A atividade física é a melhor ferramenta que temos para manter a saúde das articulações.
Mas então, a infiltração com hidrogel funciona?
Quando bem prescrito, sim!
Vivemos uma cultura de novidade: tudo que é novo parece melhor. Mas a medicina exige ciência e cautela. Apesar de todo o entusiasmo, ainda não sabemos ao certo quais são os possíveis efeitos colaterais do hidrogel, nem se ele é realmente superior ao ácido hialurônico tradicional. O que temos até agora são estudos iniciais promissores, mas ainda não existem pesquisas robustas e comparativas que comprovem sua eficácia com segurança.
Por isso, não é possível abandonar completamente o uso do ácido hialurônico tradicional para apostar somente no hidrogel.
Além disso, tem algo que nunca vai mudar: a avaliação médica presencial e cuidadosa. É essencial que o médico examine o paciente com atenção, interprete bem os exames de imagem, converse com clareza e oriente de forma individualizada. Nada disso será substituído por robôs, algoritmos ou soluções automáticas.
E é nessa avaliação que muitas vezes percebemos que o paciente já está em estágio cirúrgico, e o hidrogel, por melhor que seja, não substitui uma cirurgia de um caso de artrose avançada.
Por isso, mesmo que o hidrogel pareça uma solução milagrosa, ele não substitui os tratamentos tradicionais como próteses ou osteotomias em casos mais avançados.
O que podemos afirmar com segurança é que o hidrogel tem potencial e certamente vai conquistar seu espaço na medicina — com mais estudos, regulamentações e uso consciente.
Quer mais detalhes? Para entender mais sobre o assunto, assista também ao vídeo abaixo, que está no meu canal do Youtube: