Canelite ou síndrome do estresse tibial medial também conhecida como periostite tibial é uma lesão comum em mulheres. Esta condição é caracterizada por dor no terço inferior e de dentro da canela.

A lesão é causada por trauma por esforço repetido no tecido conjuntivo que envolve o osso da tíbia, conhecido como periósteo. Ignorar esta lesão pode agravar os sintomas ou resultar em uma condição mais grave, como uma fratura por estresse dos ossos da perna.

Quais os riscos de eu desenvolver a canelite?

Estatisticamente, os fatores de risco para o desenvolvimento de Shin splint em corredoras incluem:  treino de corrida inadequados, fraqueza dos músculos anteriores da perna, em especial do músculo tibial anterior, principal supinador na fase apoio médio da corrida, desequilíbrio entre os músculos anteriores e posteriores da perna, muitas vezes causado pelo uso excessivo de salto alto no dia-a-dia, inflexibilidade e rigidez dos músculos gastrocnêmio, sóleo, e os músculos plantares (comumente o flexor longo dos dedos). Alguns autores atribuem também como fator de risco, aumentos repentinos da atividade física, incluindo intensidade e duração fazendo com que os músculos fiquem incapazes de absorver o impacto da força de choque ao solo, e também, comprometendo a capacidade de remodelação óssea, principalmente em mulheres com história prévia de osteopenia ou osteoporose.

canelite

O uso de  tênis  inadequado, inclusive tênis muito velhos também podem contribuir para dores nas canelas. Mulheres que possuem pisada pronada são particularmente propensas a desenvolver a doença, principalmente quando associada à fraqueza do músculo tibial anterior, pois, a falta de supinação do pé, associada  à rotação interna excessiva da tíbia na fase de propulsão levaria também ao acúmulo de carga na face interna da perna, desencadeando a lesão.

 

Mas, por que a canelite dói?

Alguns autores acreditam que esta dor seja causada por ruptura de fibras de Sharpey que ligam a fáscia medial do músculo sóleo. A Fáscia é um tecido fibroso conectivo que recobre grupos musculares ao periósteo da tíbia.

 

Diagnóstico da Canelite

A canelite geralmente ocorre no final do treino e melhora ao repouso, aplicação de gelo local ou uso de analgésicos e anti-inflamatórios. No entanto, pode ocorrer também durante o início do exercício. A apresentação clínica típica desta condição envolve dor na palpação local e, às vezes, inchaço.  Se a corredora erroneamente associa a dor à um “evento comum” a corredores ou simplesmente tenta ignorá-la, pode haver progressão e a dor pode permanecer durante todo o treinamento ou durante a atividade de baixa intensidade e pode, inclusive continuar em repouso.

O exame de escolha para o diagnóstico é a ressonância nuclear magnética da perna, que freqüentemente mostra o espessamento do periósteo da região da dor. O principal diagnóstico diferencial desta lesão é a fratura de estresse, observada na ressonância magnética, cintilografia óssea de 3-fases e radiografias simples.

Recomenda-se também o exame de densitometria óssea e a avaliação de um endocrinologista para se descartar doenças do metabolismo ósseo, principalmente nas corredoras de alto rendimento, devido ao risco de uma progressão para uma fratura de estresse.

Outras lesões crônicas que podem mimetizar a canelite incluem a síndrome compartimental crônica de esforço, compressão do nervo tibial e a síndrome do aprisionamento da artéria poplítea.

 

Tratamento para Canelite

A canelite deve ser tratada inicialmente com gelo e anti-inflamatórios não esteroides, para reduzir a inflamação, seguida de fisioterapia que objetiva a redução da inflamação e reequilíbrio da musculatura a fim de se prevenir a recidiva da lesão.

 

Devo parar de correr após ter canelite?

Para a cura, recomenda-se o descanso que vai de uma semana até 3 meses. Tudo isso dependerá dos sintomas e do desequilíbrio muscular encontrado durante o exame físico. Para os raros casos mais graves, recomenda-se muletas. Para os casos mais leves que, felizmente são a grande maioria, recomenda-se diminuir a duração ou a intensidade do seu exercício e, em seguida, construir-se lentamente, um novo treino, de preferência sob a supervisão do fisioterapeuta.

Calçados e palmilhas apropriados são também necessários para se evitar a recidiva da lesão. Recomenda-se a realização de baropodometria, popularmente conhecido como “teste de pisada” para a detecção de pisadas patológicas, principalmente a pronação excessiva.

Nos casos refratários e em recidivas podem incluir terapia de ondas de choque extracorpóreas, método mais comummente  usado para tratar tendinopatias dos membros inferiores. Alguns autores recomendam também a infiltração local com cortisona, analgésicos e plasma rico em plaquetas (PRP).

Há também as opções cirúrgicas. Estas são reservados para casos que não respondem ao tratamento conservador, incluindo “Fasciotomia Posterior”, técnica que envolve a liberação do tecido fibroso conectivo denominado “fáscia”, que recobre grupos musculares.

Apesar de ser uma lesão comum e de aparente fácil resolução, a canelite ou shin splint pode afastar a corredora por um longo período e comprometer a performance cardio-respiratória. Por isso, assim como em outras lesões, a prevenção é a melhor saída. E isso envolve o conhecimento da composição corporal através de um check up que envolva o aparelho locomotor, seguido do trabalho de fortalecimento, reequilíbrio e melhoria da flexibilidade muscular sob a supervisão de um educador físico que entenda da biomecânica da corrida.

 

Referências bibliográficas

Galbraith, M, & Lavallee, M. (2009). Medial tibial stress syndrome: conservative treatment options. 2(3):127–133. Retrieved from Pubmed

Craig, D. I. (2008). Medial Tibial Stress Syndrome: Evidence-Based Prevention. Journal of Athletic Training, 43(3), 316-318. Retrieved from EBSCOhost.

Yates, B., White, S. (2004). The incidence and risk factors in the development of medial tibial stress syndrome among naval recruits. American Journal of Sports Medicine, 32(3), 772-780. Brukner, P. (2000). Exercise-related lower leg pain: An overview. Medicine and Science in Sports and Exercise, 32(3), pS1-S3

Bennett J. E.Reinking M. F., Pluemer B., et al. (2001). Factors contributing to the development of medial tibial stress syndrome in high school runners. This could cause pain along the shin. Journal of Orthopedic and Sports Physical Therapies, 31, 504-510.

Haycock C. E., Gillette J. V. (1976). Susceptibility of women athletes to injury: Myths vs. reality. Journal of the American Medical Association, 236(2), 163 – 165.

Carr, K., & Sevetson, E. (2008). How can you help athletes prevent and treat shin splints? Journal of Family Practice, 57(6), 406-408. Retrieved from EBSCOhost.

Edwards Jr., P. H., Wright, M. L., & Hartman, J. F. (2005). A Practical Approach for the Differential Diagnosis of Chronic Leg Pain in the Athlete.American Journal of Sports Medicine, 33(8), 1241-1249.

 

Acesse nosso Canal no Youtube e Inscreva-se:

 

logo youtube

 

Postagens similares

6 Comentários

    1. Oi, Anderson.
      Todos os antiinflamatorios sao potencialmente perigosos, pois possuem efeitos colaterais. Não se auto-medique. Procure auxilio médico.

  1. Boa tarde, tenho 46 anos e corro há 5 anos. Nunca tive problemas, emagreci 20 kilos com a corrida. Faço musculação, fiz teste da pisada e uso tênis adequado. Ano passado tive fratura por estresse e fiquei 6 meses sem correr. Comecei com caminhadas, depois 1km corrida é fui aumentando aos poucos estou correndo bem de leve 5km 3x na semana . As vezes faço caminhada em vez de corrida. Mas a canelite não me deixa. Dói muito. Faço gelo, fisio, ultrassom, eletroacupuntura, tomei antiinflamatorios. E nada. Será que minha carreira de corredora acabou?

    1. Oi, Cristiane.
      Em casos como o seu, acho muito importante realizar uma avaliação biomecanica, testes de equilíbrio muscular como o isocinetico de joelho e tornozelo e, principalmente, avaliar seu metabolismo osseo. Existem hoje no mercado medicamentos que auxiliam no ganho de massa óssea e tem sido utilizados no tratamento da canelite pelo fato desta lesão ser considerada uma fratura de estresse grau I.
      Se puder passar em avaliação comigo, será um prazer poder te ajudar.
      Forte abraço

      Adriano Leonardi

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *