A Síndrome do Impacto consiste em um dos problemas mais comuns do ombro e, nesse sentido, em uma das mais frequentes causas de dor nesta articulação. Popularmente, é chamada de “bursite”, termo amplamente difundido pela população, ainda que mal compreendido. O termo “bursite” refere-se à inflamação de um tecido chamado bursa, que existe em varias articulações, e também no ombro. A bursa (termo do latim, que significa, em português, “bolsa”) tem como função principal no ombro facilitar o deslizamento de um grupo de tendões, chamado de manguito rotador, abaixo de um osso chamado acrômio. O acrômio é aquele osso que todos nós palpamos facilmente, e que fica ao lado ponta da clavícula.Já o manguito rotador consiste num grupo de quatro músculos, e que tem papel importante na movimentação do ombro. Toda vez que levantamos o braço, os tendões do manguito rotador “deslizam” por baixo do acrômio, e a bursa existe justamente para facilitar esta situação.

 

Mas quais são as causas de impacto? E quais seriam outras causas de bursite?  

A função do manguito rotador, entre outras, é a de estabilizar a cabeça do úmero na articulação o ombro. É como se fosse os dedos da mão segurando uma bola de tênis, permitindo que, através de um mecanismo de apoio da cabeça umeral, o braço se eleve sem que ocorra um impacto da cabeça (e dos tendões do manguito rotador) contra o acrômio. Assim, qualquer alteração que comprometa um ou mais grupos musculares do manguito, seja por trauma, seja por alterações degenerativas (envelhecimento), seja por sobrecarga (“uso excessivo”) associada ou não a fadiga muscular, pode desequilibrar este sistema de deslizamento e causar impacto.

Já as causas mais comuns de bursite, além da Síndrome do Impacto, são:

  • Tendinite calcária, onde há uma formação de cristais de cálcio dentro do tendão, de causa ainda desconhecida;
  • Capsulite adesiva, uma espécie de retração da membrana da articulação do ombro com consequente perda de movimento do mesmo;
  • Tendinite do bíceps;

 

Anatomia e Biomecânica

As estruturas mais importantes que estão envolvidas na síndrome do impacto são:

  • Manguito rotador (tendões dos músculos subescapular, supra-espinal, infra-espinal e redondo menor);
  • Arco coraco-acromial (processo coracoide, ligamento coraco-acromial e porção ântero-lateral do acrômio);
  • Tendão do bíceps (cabo longo do músculo bíceps braquial);
  • Bursa subacromial (mecanismo de deslizamento);
  • Articulação acromioclavicular;
Tendinite do ombro
Fig. 1 – Corte coronal do ombro.

 

Classificação

A síndrome do impacto, de forma didática, pode ser dividida em três fases de evolução:

  • Grau I – É a fase inicial da doença, que se caracteriza por uma lesão inflamatória aguda nos tendões do manguito, principalmente do supra-espinhoso, acompanhada ou não por hemorragia. As lesões ocorrem como consequência de trauma agudo, ou mais frequentemente de sobrecarga no ombro, em pacientes jovens, e com frequência em atletas. O tratamento é conservador, já que as lesões agudas regridem com ou sem tratamento. A prevenção é feita com fortalecimento, balanceamento e alongamento muscular, além de exercícios proprioceptivos, principalmente para os praticantes de esporte.
  • Grau II – Nesta fase intermediária já aparecem alterações degenerativas na região subacromial (abaixo do acrômio) e no manguito rotador, como consequência de lesões inflamatórias de repetição. Em geral, acomete pessoas acima dos 40 anos. Está relacionado com atividades que exigem a elevação frequente do braço durante as atividades laborativas, e se traduz em um quadro de dor mais constante, que ocorre não somente durante as atividades de elevação ou esforço do braço, mas também durante o repouso. O tratamento inicial é sempre conservador, podendo em alguns casos necessitar de correção cirúrgica. Portanto, nesta fase existem alterações anatômicas com características degenerativas, porém sem rotura do manguito rotador.
  • Grau III – A marca desta fase é a rotura do manguito rotador, somada a todas as alterações degenerativas da fase anterior. Esta lesão ocorre com maior frequência em pessoas acima de 60 anos de idade. O tratamento inicial deve visar a melhora da dor e do processo inflamatório, e depois a melhora da função. O tratamento cirúrgico é indicado na falha do tratamento conservador.

 

Quadro Clínico

O sintoma mais comum é a dor, que pode estar acompanhada ou não de diminuição da função articular. A dor em geral, é referida na face ântero-lateral do braço, apesar de não haver lesão nesta região. A dor pode ser de intensidade moderada e persistente, ocorrendo episódios de agravamento (crises), que melhoram com anti-inflamatórios ou analgésicos. Quando há rotura dos tendões do manguito rotador, é comum a dor noturna e a diminuição da força e da função do ombro, e pode haver também hipotrofia dos músculos supra-espinal e infra-espinal.

 

Avaliação através de exames por imagem

O primeiro exame a ser pedido pelo médico deve ser sempre a radiografia simples, de preferência em 4 posições diferentes – frente nas rotações lateral e medial, e o perfil ou axilar. Através das radiografias é possível avaliar a presença de alterações degenerativas osteo-articulares, deformações ósseas e sinais indiretos de lesão do manguito rotador (os tendões do manguito rotador não aparecem nas radiografias, mas o médico com um pouco de experiência pode observar algumas alterações ósseas que podem sugerir a presença de lesão do tendão, sendo assim estes achados chamados de sinais indiretos de lesão).

Após as radiografias, podem ser solicitados alguns exames para avaliar o manguito rotador:

Tendinite do ombro
Fig. 2 – Ressonância magnética em T2, demonstrando uma lesão completa do manguito rotador.

 

  • Ultrassom, um exame barato e não invasivo;
  • Ressonância magnética, fornece o maior número de informações em relação ao manguito rotador e à região subacromial, e é mais confiável do que o ultrassom. Todavia, é um exame mais caro, demorado e algumas pessoas tem intolerância a este tipo de procedimento.

 

Tratamento

O tratamento da síndrome do impacto deve ser inicialmente sempre conservador, independente da fase da lesão do manguito rotador. Deve-se tratar primeiramente a dor do paciente, através de medidas analgésicas, como:

  • Calor ou gelo local dependendo da sensibilidade do paciente;
  • Anti-inflamatórios não hormonais (AINH);
  • Analgésicos;
  • Fisioterapia ( obrigatória na maioria dos casos);
  • Acupuntura.

É importante salientarmos que a acupuntura é, sem dúvida, um excelente e comprovado meio de se tratar a dor do paciente, porém é fundamental que deixemos claro que ela não tem a capacidade de curar a doença, uma vez que as alterações que estão envolvidas são mecânicas, e não apenas inflamatórias. Desse modo é necessário, para a resolução do quadro, que seja instituído o fortalecimento dos músculos do manguito rotador, sendo esta justamente a segunda fase do tratamento. Todavia, os exercícios resistidos para fortalecimento muscular do manguito só devem ser iniciados quando a dor estiver controlada, e devem ser feitos sempre dentro dos limites de tolerabilidade do paciente, para que asseguremos que estão sendo feitos da maneira correta.

Acredita-se que o tempo médio necessário para que se consiga algum resultado satisfatório com o tratamento conservador seja de pelo menos 3 meses, embora alguns pacientes apresentem melhora significativa bem antes deste tempo. Se, após um período razoável, o paciente não obtiver melhora satisfatória, pode-se indicar o tratamento cirúrgico, que dependerá do tipo da lesão.

 

Mas quanto tempo de fisioterapia deve ser feito? E quando se indica a cirurgia?

Como dito, o tempo mínimo de fisioterapia para que se possa inferir que a mesma não deu resultado, é de pelo menos 3 meses. Alguns especialistas acham que este tempo talvez seja maior, de até 6 meses de fisioterapia. Se após este período, o paciente não melhorar, a cirurgia já deve ser considerada.

O tratamento cirúrgico visa o restabelecimento da função normal do manguito rotador, ou seja, pretende devolver ao ombro do paciente condições para que o os tendões do manguito “deslizem” normalmente abaixo do acrômio, ou seja, sem “impacto”.

Para tanto, realizamos a acromioplastia, ou seja, ressecamos uma parte do acrômio, para que não haja mais impacto quando se eleva o braço. Alem disso, as roturas do tendão são sempre suturadas, caso existam. Além desses procedimentos clássicos na região subacromial, para o tratamento da síndrome do impacto, deve-se corrigir também todas as alterações que possam interferir com a elevação do ombro e a ação do manguito rotador, como:

  • Retirada de toda a bursite;
  • Desbridamento (limpeza) do tendão do bíceps, se necessário;
  • Retirada de artrose acrômio-clavicular (artrose da ponta da clavícula).

Atualmente, existe uma preferência pelo método artroscópico, pois os resultados são pelo menos iguais aos da cirurgia aberta, além de muito menos dor pós-operatória e, assim, assegurar uma recuperação um pouco mais rápida.

A reabilitação pós-operatória consiste em exercícios passivos que são iniciados após a primeira semana, durante 6 semanas, nos pacientes que tiveram reparação do manguito rotador. Depois da sexta semana, iniciam-se os movimentos ativos assistidos até a oitava semana, e em seguida os exercícios ativos resistidos. Quando o paciente recuperou toda a função e força muscular inicia-se os treinos de propriocepção, para prepará-lo para o retorno ao esporte.

 

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12 Comentários

  1. Olá Dr Adriano? Tudo bem? Tive uma crise de dor aguda no ombro à uns 3meses …É foi se agravando…fiz ressonância deu tendinopatia do supraespinhal,infraespinhal e subescapular( lado direito)…fui medicada com antiinflamatorios, repouso do ombro e fisioterapia…mas minha pergunta é: essa dor do ombro pode irradiar pra mama direita?meus exames mamário estão ok e em dias…

  2. Olá Dr Adriano! Tudo bem?! Tenho 35 anos e sempre pratiquei diversas atividades físicas. Recentemente fazendo um treino no saco de pancadas, acabei usando força excessiva nos golpes (cruzados de direita).. e não tinha aquecido adequadamente. Senti o ombro direito na hora e parei com a atividade. Isso já tem uma semana e venho fazendo o tratamento conservador (alguns alongamentos, gelo, água quente e antiinflamatorios). Sinto pouquíssima dor, mas ainda não retornei às atividades. Será que é necessária uma consulta ao ortopedista? Obrigado

  3. Olá, eu estava com uma lesão no tríceps, então fiquei colocando gelo na posição com braço elevado supinado apoiado encima da mesa, até um dia q senti uma dor no ombro, logo parei de colocar gelo por isso. Após umas semanas fui fazer um ressonância do cotovelo e fiquei nessa mesma posição durante o exame. Nesse dia comecei a sentir uma dor muito forte na região anterior do ombro, tenho dificuldade de esticar, seria tendinite do bíceps longo?

    1. Sim.
      Pode ser.
      Para te responder isso, precisaria te examinar e ver as imagens de seus exames.
      Se puder passar em consulta comigo, será um prazer pode te ajudar.

      O endereço e telefones do consultório sao:

      Rua Bento de Andrade,103
      Ibirapuera SP/SP
      Tels. (11) 2507 9021
      whatsapp: (11)94754-9183

      Se tiver dificuldade em consulta presencial, meu link para Telemedicina é https://adrianoleonardi.com.br/telemedicina/

      Cordialmente,

      Dr Adriano Leonardi
      CRM/SP 99660

  4. Tenho uma lesão articular de 50 por cento no tendão infra e subscapular por um trauma alem de tendinite e bursite, venho fazendo fisioterapia só que tem episódios de dor em todo braço que não sessa com analgésicos, já tomei vários anti-inflamatórios, o que poderia ser feito nesse caso?

  5. ola boa tarde estava com dores intensas no ombro esquerdo e fiz uma ultrasson deu que tinha uma tendinite e uma artose acrómio-clavicular tem cura ou só tratamento

    1. Oi, Valeria

      Para te responder isso, precisaria te examinar e ver as imagens de seus exames.
      Se puder passar em consulta comigo, será um prazer pode te ajudar.

      O endereço e telefones do consultório sao:

      Rua Bento de Andrade,103
      Ibirapuera SP/SP
      Tels. (11) 2507 9021
      whatsapp: (11)94754-9183

      Se tiver dificuldade em consulta presencial, meu link para Telemedicina é https://adrianoleonardi.com.br/telemedicina/

      Cordialmente,

      Dr Adriano Leonardi
      CRM/SP 99660

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