Existe alguma forma de exercer um fortalecimento da cartilagem? Antes de mais nada, é importante entender que ela não age sozinha na articulação. Existem inúmeras outras estruturas que agem sobre ela e podem sobrecarregá-la, ou preservá-la. 

AFINAL, O QUE É CARTILAGEM?


Antes de abordarmos o fortalecimento, é necessário compreender o que é a cartilagem. A cartilagem articular é um tecido que reveste as articulações, funcionando como um colchão que absorve a energia cinética resultante do impacto entre os ossos. Ao saltar, aterrissar, ou realizar movimentos bruscos, a cartilagem atua como uma mola, permitindo que a articulação se mova sem o contato direto dos ossos. Sem a cartilagem teríamos muito impacto entre os ossos e o movimento seria praticamente impossível. A figura abaixo ilustra o que seria a cartilagem articular:




(Figura 1)

A cartilagem possui características importantes, sendo a principal a sua capacidade de regeneração, que é praticamente nula. Atualmente, existem muitos estudos sobre a regeneração da cartilagem, tanto no Brasil quanto no exterior, mas geralmente essa regeneração requer tratamento cirúrgico. O conceito que discutiremos é denominado mecanotransdução. As células da cartilagem, chamadas de condrócitos, são estimuladas pelo movimento.

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A figura 2 ilustra as quatro camadas da cartilagem e as setas mostram o movimento homogêneo. Esse movimento gera uma pressão e quando ela ocorre de maneira cíclica o condrócito começa a fabricar mais matriz extracelular, ou seja, é como se você estivesse fazendo um carinho na cartilagem ao se movimentar e, com isso, os condrócitos começam a aumentar a produção desse colágeno e a produção de proteoglicano. Esse processo é chamado, em meio médico, de condro anabolismo. Quanto mais se movimenta de forma fisiológica, melhor é a resposta dela.


(Figura 2a)

(Figura 2b)

Estudos recentes demonstram que, ao contrário do que se pensava, o sedentarismo não preserva a cartilagem. Indivíduos moderadamente ativos, que realizam caminhadas, pedaladas ou treinos regulares, apresentam uma cartilagem mais saudável, que se degrada mais lentamente, desde que tenham uma boa predisposição genética.

Entretanto, a cartilagem não responde bem a pressões excessivas. Por exemplo, pessoas que começam a correr sem a preparação adequada ou que realizam exercícios de alto impacto sem orientação em um “Projeto Verão” forçando demais aquela subida de escada, ou uma pessoa que entra no crossfit e não tem uma orientação correta e começa a fazer agachamento com excesso de peso sem estar preparada podem sofrer danos. Essas situações de pressão abrupta sobre a cartilagem podem levar à morte local dela e chamamos isso de condropatia, ou seja, doença da cartilagem, que, muitas vezes, é irreversível e requer tratamento cirúrgico.

(Figura 3)

QUAL A ATIVIDADE BENÉFICA PARA A QUALIDADE DA CARTILAGEM?

A questão central é: qual atividade é mais benéfica para a qualidade da cartilagem? Estudos indicam que movimentos dentro dos limites fisiológicos, sem exageros, como, por exemplo, caminhada, corrida, ciclismo e academia favorecem a saúde. Mas alguns estudos mostram, na figura 4, que o movimento cíclico sem impacto é considerado mais benéfico, especialmente para aqueles que já apresentam condições como doenças da cartilagem, como condropatia, que é o estágio inicial ou como a artrose, que é o estágio final.



(Figura 4)

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É claro que precisamos pensar como esse pedal seria planejado. Por exemplo, se falarmos de mountain biking ou de um treino de speed em uma subida muito íngreme com muita trilha técnica, evidentemente é muito mais difícil avaliar os benefícios sobre a cartilagem, mas se o pedal for em um ambiente plano ou em uma academia, como uma bicicleta ergométrica, por exemplo, esse contato se torna muito mais homogêneo e benéfico.

Os estudos mostram que para ter o efeito de condro anabolismo, tanto para pessoas que não tem a doença cartilaginosa quanto para pessoas que já tenham a doença, cerca de 10 a 15 minutos todos os dias de atividade física, como bicicleta ou transport (elíptico) com ciclo de 60 a 70 rpms com uma resistência moderada, ou seja, de 1 a 2 Watts por kg de peso fazendo esse ciclo constante sem aumentar ou reduzir a carga. Outras alternativas também dentro de um ambiente de academia pode ser o remo, também de 10 a 15 minutos por dia, de 20 a 30 remadas por minuto em intensidade moderada. O leg press muito bem posicionado e com acompanhamento de um profissional de educação física também é uma alternativa, sendo necessário cerca de 20 a 30 ciclos por minuto em resistência pequena para ativar a mecanotransdução e o condro anabolismo.

Eu oriento todos os meus pacientes, sejam com condromalácia patelar ou com artrose, que pratiquem atividade física e que a pior solução é ficar parado. A inatividade física tem um impacto negativo direto sobre a cartilagem, levando à atrofia e perda do tecido cartilaginoso, como visto acima.

CONCLUSÃO

Portanto, é essencial manter-se ativo e consultar seu médico sobre a prescrição de atividades físicas adequadas ao seu quadro articular. Se necessário, um médico especializado em medicina esportiva pode ser consultado para evitar a progressão de doenças cartilaginosas.

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