Você já ouviu falar de uma lesão no joelho chamada instabilidade femoro-patelar? É muito mais frequente do que você imagina. Essa lesão começa a partir de um trauma no joelho que chamamos de luxação femoropatelar que é quando a patela, aquele osso que desliza na frente do nosso joelho, pula fora do lugar.
Por que a luxação femoropatelar acontece?
A luxação femoropatelar é a segunda maior causa de inchaço traumático repentino ficando atrás somente da lesão do Ligamento Cruzados Anterior.
As mulheres são muito mais acometidas do que os homens e isso acontece pois o ângulo Q das mulheres – aquele entre a musculatura do quadríceps e do tendão patelar, costuma ser um pouco mais aumentado.
Existem muitas mulheres, especialmente no Brasil, que tem o chamado Geno Valgo que é o joelho em X.
A partir do momento que a pessoa desacelera ou desce uma escada, fazendo qualquer movimento abrupto e com mais força, a patela pode pular para fora do lugar. Quando isso acontece, existe uma ruptura aguda do Ligamento Femoropatelar medial que ajuda a estabilizar e do retináculo medial que são as estruturas que ajudam a segurar a patela na região central do joelho.
Pessoas com hiperfrouxidão ligamentar (pessoas que são muito mais flexíveis e com uma maior mobilidade) são mais propícias a ter essa lesão, principalmente aquelas pessoas que têm a hiperfrouxidão associada a um distúrbio biomecânico chamado valgo dinâmico.
O valgo dinâmico, como explicado em outras lesões como na condromalácia, nada mais é do que um dissincronismo entre as musculaturas do quadril e a musculatura do quadríceps além de um disparo muscular mais alterado. Em mulheres, esse disparo já é normalmente mais alterado além de estar ligado à fase do ciclo menstrual.
Todos esses fatores juntos, aliados a uma situação de desaceleração, a patela pode pular fora do lugar.
Como é feito o diagnóstico
Normalmente existe uma história de entorse aguda e, ao examinar no limite da dor da pessoa, o joelho pode estar inchado. Se fizer uma punção desse inchaço normalmente encontra-se um líquido sanguinolento ou sero-sanguinolento, e essa punção ajuda no alívio da dor.
O exame clássico para análise é a Ressonância Magnética em que nesses casos é possível ver que o ligamento cruzado está inteiro e que existem rupturas de estruturas dentro do joelho que estabilizam a patela na região central. O mais importante na Ressonância é ver se nessa luxação a patela levou ou não algum fragmento de cartilagem concomitante. Se associado a uma lesão cartilaginosa, a cirurgia é de urgência.
Tratamento
Para pessoas que não tiveram lesão cartilaginosa concomitante o tratamento envolve a análise de alguns fatores, como:
- É um atleta profissional?
Normalmente fazemos a abertura e o reparo cirúrgico através da sutura do ligamento.
- Quando não atleta e teve um único episódio sem lesão cartilaginosa, faz-se a imobilização por 1 ou 2 semanas e inicia-se a fisioterapia para reabilitar e voltar ao esporte ativamente.
Se a pessoa tem o histórico de 3 ou mais episódios de luxação, o tratamento é cirúrgico pois é uma Instabilidade Crônica Femoro-patelar.
Ao operar, o consenso mundial orienta fazer uma tomografia para avaliar o Índice GT-TA, que avalia a patela em relação a tíbia e se a inclinação da patela é excessiva ou não. Se esse índice for aumentado, costumamos mexer também em um ossinho chamado de Tuberosidade Tibial Anterior.
O Consenso Mundial de Ortopedia orienta a reconstrução do ligamento femoropatelar medial e para isso usa-se o tendão do músculo gráfico ou o tendão semitendíneo (não é necessário usar os dois como fazem para reconstrução do LCA). Gosto de fazer a chamada fixação em “jaquetão” que são duas âncoras bioabsorvíveis bastante seguras e estáveis e fixamos na patela com um parafuso bioabsorvível (se possível).
Como é o pós-operatório da cirurgia para luxação femoropatelar?
Começamos um protocolo com um aparelho chamado CPM, que é uma máquina que já começa a dobrar e esticar o joelho. Mantemos imobilizado o mínimo possível, depois começamos um bom trabalho de fortalecimento.
É possível fazer um teste isocinético para ver o equilíbrio muscular já que esse desequilíbrio está ligado à recidiva da luxação. Naquelas pessoas que tinham algo dinâmico, hiperfrouxidão ligamentar principalmente em mulheres, focamos muito em Treino Neuro Sensório-motor ou treino pliométrico. A agilidade motora para essas pessoas, junto à força muscular, deve estar muito boa para garantir que ela consiga desacelerar, saltar, aterrissar sem recidiva da luxação futuramente.