Você já ouviu falar que toda condromalácia é uma condropatia, mas nem toda condropatia é uma condromalácia?

Quando falamos sobre dores nos joelhos, os termos “condromalácia” e “condropatia” aparecem bastante. Muitas pessoas acabam usando essas palavras como se fossem sinônimos, mas será que é bem assim? Vamos entender melhor o que cada um deles significa, suas causas, como são diagnosticados e quais tratamentos estão disponíveis.

O QUE É A CARTILAGEM DO JOELHO?

Trata-se de um material borrachoso que recobre os ossos e permite que um deslize sobre o outro com pouco atrito. Funciona, portanto, como uma espécie de amortecedor.

É composta por 4 camadas (2 zonas superficiais e 2 profundas) e trata-se de um tecido avascular (que não recebe sangue) constituído basicamente de células que chamamos de condrócitos (5% do tecido cartilaginoso) e uma matriz composta predominantemente por colágeno do tipo II. A função desta matriz é reter água, conferindo à cartilagem a habilidade de sofrer deformação reversível quando comprimida, funcionando como uma mola biológica.

Figura 10: A imagem mostra a cartilagem articular sadia e suas 4 camadas, chegando até o osso subjacente, que chamamos de subcondral.

O QUE É CONDROMALÁCIA?

A condromalácia patelar, ou simplesmente condromalácia, é uma condição que afeta a cartilagem que fica na parte de trás da patela, o osso pequeno e triangular também conhecido como rótula, na frente do joelho. Essa cartilagem é super importante, pois ajuda a amortecer o impacto e permite que o movimento de dobrar e esticar as pernas, além de evitar o atrito entre um osso e outro.

Figura 1: ilustração de uma patela já em estágio avançado de condromalácia.

Figura 2: à esquerda, temos um joelho saudável e à direita, um processo de condromalácia patelar.

A condromalácia nada mais é do que o amolecimento ou o desgaste da cartilagem do joelho e esta condição causa mais atrito entre os ossos. Isso pode causar dor, desconforto e, às vezes, uma sensação de estalos no joelho. Existem quatro graus de condromalácia, que variam de acordo com a gravidade:

  • Grau 1: A cartilagem está amolecida, mas não tem fissuras visíveis.
  • Grau 2: Começam a aparecer pequenas rachaduras na cartilagem.
  • Grau 3: As lesões são mais profundas, atingindo boa parte da espessura da cartilagem.
  • Grau 4: A cartilagem está tão desgastada que o osso abaixo fica exposto.

Figura 3: Estágios da condromalácia

Figura 4: Ressonância magnética de um paciente com condromalácia patelar. A seta indica exatamente o ponto de desgaste da cartilagem.

CAUSAS DA CONDROMALÁCIA

O desgaste ou o amolecimento desta cartilagem articular do joelho podem ser provocados por várias razões, entre elas podemos destacar:

DESALINHAMENTO DA PATELA

Quando a patela não se movimenta corretamente, o atrito e o desgaste aumentam.

USO EXCESSIVO

Atividades repetitivas, como correr ou saltar, podem sobrecarregar o joelho.

FRAQUEZA MUSCULAR

Músculos fracos que sustentam o joelho podem levar a um mau alinhamento da patela.

TRAUMAS OU LESÕES

Uma pancada direta na patela ou quedas podem danificar a cartilagem.

PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA

Algumas pessoas têm uma tendência maior a desenvolver problemas articulares.

O QUE É A CONDROPATIA?

A condropatia é um termo mais amplo que abrange qualquer problema ou doença que afeta a cartilagem de uma articulação. Então, a condromalácia é apenas um tipo de condropatia. Enquanto a condromalácia se refere especificamente ao desgaste da cartilagem da patela, a condropatia pode afetar qualquer articulação e surgir por diversos fatores, como traumas, inflamações ou desgaste natural.

Portanto, é importante lembrar: toda condromalácia é uma condropatia, mas nem toda condropatia é condromalácia. 

CAUSAS DA CONDROPATIA

Antes de mais nada, é importante ressaltar que a condropatia é considerada a principal causa de dor crônica, acometendo de 70 a 80% da população mundial, segundo última estimativa e, por este motivo, continua sendo objeto de estudos pelo mundo todo.

A condropatia pode incluir uma variedade de condições, como lesões ou doenças que afetam a cartilagem de várias articulações.

Além das causas acima, as condropatias podem ser desencadeadas por outros fatores, como:

HISTÓRIA FAMILIAR

Se existe um traço genético dentro da família, a chance de várias pessoas desenvolverem a doença é relativamente grande.

DOENÇAS INFLAMATÓRIAS

A inflamação crônica de doenças como a gota e a artrite reumatoide pode levar à condropatia.

DESGASTE NATURAL

Com o tempo, as articulações sofrem um desgaste natural.

TRAUMAS SEVEROS

Um acidente pode danificar a cartilagem.

SOBREPESO OU OBESIDADE

O excesso de peso aumenta a pressão sobre as articulações.

INSTABILIDADE ARTICULAR

Uma pessoa que sofreu uma ruptura de um dos ligamentos do joelho pode desenvolver instabilidade crônica (falseio), que leva a um contato anormal da cartilagem do joelho, iniciando uma condropatia.

IDADE

Apesar de fazer parte do nosso envelhecimento, algumas pessoas têm o envelhecimento articular muito acelerado.

SEXO

A condropatia tem prevalência entre mulheres.

ALTERAÇÕES ANATÔMICAS

Pessoas que tem a chamada patela alta, ou seja, quando a patela encontra-se em uma altura acima do normal em seu trilho (tróclea) ou o que chamamos de tróclea rasa (calha rasa) onde a patela também leva ao aumento da pressão na cartilagem e, finalmente, a báscula da patela (lateralização excessiva da patela), gerando lesões extremamente frequentes como a condropatia patelar.

ESPORTE PRATICADO

Esportes de impacto como a corrida, dança e o treino funcional estão intimamente ligados ao desenvolvimento de condropatia, principalmente da patelar e ocorre quando são praticados acima do limite fisiológico da pessoa, ou seja, em excesso, sem a preparação física prévia e sem orientação de um treinador.

SINTOMAS

Os sintomas de condromalácia e condropatia são bem semelhantes, o que pode dificultar o diagnóstico. Os principais sinais incluem:

  • Dor: Geralmente na frente do joelho, especialmente ao subir ou descer escadas ou ficar muito tempo sentado.
  • Inchaço: A articulação pode ficar inchada após atividades físicas.
  • Estalos: Sensação de estalos ao mover o joelho.
  • Rigidez: O joelho pode ficar mais rígido, dificultando movimentos.
  • Desconforto: A dor pode piorar em atividades que exigem esforço.

DIAGNÓSTICO

Para diagnosticar condromalácia ou qualquer outro tipo de condropatia, o médico fará uma avaliação cuidadosa, que leva em conta a história clínica, o exame físico e alguns exames de imagem.

  • Histórico clínico: Perguntas sobre os sintomas, lesões recentes e atividades que agravam a dor.
  • Exame físico: O médico examina o joelho em busca de dor, inchaço e limitação de movimento.
  • Exames de imagem:
    • Raio-X: Para verificar o alinhamento da patela e problemas nos ossos.
    • Ressonância magnética: O melhor exame para visualizar a cartilagem.
    • Artroscopia: Em casos complexos, pode ser necessário um procedimento cirúrgico minimamente invasivo.

TRATAMENTO

O tratamento depende da gravidade da lesão e dos sintomas. As opções incluem:

TRATAMENTOS CONSERVADORES

  • Fisioterapia: Exercícios para fortalecer os músculos que sustentam o joelho.
  • Medicamentos: Analgésicos e anti-inflamatórios para controlar a dor.
  • Modificação de atividades: Evitar atividades de alto impacto.
  • Perda de peso: Reduzir o peso pode aliviar a pressão nas articulações.
  • Uso de órteses: Joelheiras podem ajudar a estabilizar o joelho.

TRATAMENTOS INVASIVOS

  • Injeções: Corticoides ou ácido hialurônico para reduzir inflamação.
  • Cirurgia: Em casos graves, pode ser necessária uma artroscopia para remover fragmentos danificados ou até uma substituição da articulação.

PREVENÇÃO

Para evitar a condromalácia e outras condropatias, algumas dicas incluem:

  • Atividade física: Estudos indicam que movimentos dentro dos limites fisiológicos, sem exageros, como, por exemplo, caminhada, corrida, ciclismo e academia favorecem a saúde da cartilagem
    Fortalecimento muscular: Mantenha os músculos ao redor do joelho fortes.
  • Alongamento: Ajuda a evitar encurtamentos musculares e manter a flexibilidade.
  • Evitar sobrecarga: Reduza o impacto em atividades de alto risco.
  • Manter o peso saudável: Isso alivia a pressão nas articulações.

CONCLUSÃO

Embora condromalácia e condropatia sejam frequentemente confundidas, elas têm suas diferenças. A condromalácia se refere especificamente ao desgaste da cartilagem da patela, enquanto a condropatia é um termo mais geral que inclui diversas doenças que afetam a cartilagem da articulação. Ambas podem causar dor e limitar movimentos, mas com um bom diagnóstico e tratamento, é possível melhorar a qualidade de vida e manter as articulações saudáveis.

Com acompanhamento médico adequado, você pode controlar os sintomas e evitar que a situação se agrave, garantindo um joelho mais saudável e uma vida ativa!

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