Você sabe o que é evidência científica? É o que usamos para concluir se um remédio será benéfico para o paciente. Para entender mais e ter a conclusão sobre a Glicosamina e Condroitina, leia até o final.

INTRODUÇÃO 

É uma pergunta bastante comum nos consultórios e nas redes sociais. Será que a glicosamina e condroitina realmente funcionam e tem indicação tanto para o tratamento da Cardiopatia Inicial quanto da Artrose?

GLICOSAMINA E CONDROITINA

É muito importante entender o porquê e quando começaram a usar a Glicosamina e a Condroitina além dos outros nutracêuticos. A cartilagem é um tecido que possui 4 camadas e muitas poucas células, além de uma matriz extracelular (o colchão da cartilagem) muito grande e muito rico no que chamamos de Glicosaminoglicanos. Essas são moléculas muito complexas,grandes e que possuem como função a ação de uma espécie de colchão que atrai água. Na glicosaminoglicana, existe a Glicosamina, logo a ideia inicial ao fazer uma suplementação ou aumentar na dieta o uso da glicosamina é uma tentativa de aumentar esse efeito sobre a cartilagem. A ideia é que ao fazer um aporte maior dessa substância, haveria um efeito do organismo para fazer uma síntese maior, de uma regeneração maior de cartilagem além de agir na cascata inflamatória da doença cartilaginosa. 

Mas será que realmente a Glicosamina e Condroitina funcionam? 

É importante relatar ao falar desse assunto os conceitos de níveis de evidências científicas. Diz respeito à quando, ao fazer o uso de um remédio, entender se ele vai ter realmente o efeito desejado no corpo do paciente. 

Existem hoje 5 níveis de evidência científica. Os níveis vão desde o nível 5 que é a base de pirâmide, que é a experiência profissional daquele médico, chamamos de Opinião de Especialista. O topo da pirâmide é a Metanálise: conjunto de diversos estudos que são publicadas em revistas de nome e são todos colocados em um único estudo gerando uma conclusão. Quando uma metanálise afirma que aquele conjunto de estudos demonstra que aquela terapia funciona, há uma evidência científica melhor para poder propor o melhor tratamento para o paciente e ter uma resposta benéfica. 

Hoje, ao testar qualquer medicamento no mercado, qualquer um que seja, existem 7 etapas que começam desde um ensaio clínico e testa-se primeiro em animais e depois vai passando para os seres humanos. 

O melhor nível de evidência. 

Existe um tipo de estudo chamado Estudo Duplo-Cego Randomizado que é pegar um determinado remédio que achamos que pode agir e ter um determinado efeito no nosso corpo e testamos com outro remédio que chamamos de PLACEBO. Os dois remédios terão a mesma “cara”, mas como conclusão, esse estudo promove os seguintes resultados:

Quando o voluntário faz o uso daquela terminada terapia com aquele remédio, ele não sabe o que é de fato o remédio com o princípio ativo ou o que é o placebo. O examinador também não sabe quem está recebendo o remédio ou o placebo. Apenas o organizador do estudo sabe quem está tomando o remédio de verdade. Quando esse estudo duplo cego randomizado aponta que o uso do medicamento é muito superior ao placebo, podemos dizer que realmente aquela medicação terá benefício e terá o efeito desejado e que vale a pena o paciente tomar. É importante ter em mente que às vezes o remédio entra no mercado e alguns efeitos colaterais que não foram vistos durante os 7 níveis de estudo podem acabar acontecendo e muitas vezes o remédio entra e acaba sendo retirado do mercado. 

A Glicosamina e Condroitina entraram no mercado há mais ou menos 15 a 20 anos atrás e desde então começaram a ser testadas. Todos os estudos que chamamos de Meta-Análise que compararam, fizeram o estudo duplo cego randomizado e compararam a Glicosamina com o Placebo, estudos que não foram patrocinados pela indústria farmacêutica mostram que: 

  • A grande maioria dos pacientes, de 20 a 30% melhoram, mas os resultados são iguais aos de quem tomou o placebo. 

Existe um estudo publicado na Revista Brasileira de Ortopedia que é uma meta análise de diversos estudos sobre esse tema e mostram que, de fato, não existe uma evidência científica muito forte para o uso desse nutracêutico. 

MAS FAZ MAL? 

Quando vamos fazer o uso da glicosamina e condroitina, é importante levar em conta também os efeitos colaterais. O principal efeito colateral é a elevação do açúcar no sangue, aumento da glicemia e isso é muito ruim para pessoas que tem o que chamamos de intolerância à glicose ou pré-diabetes ou até mesmo as pessoas diabéticas. Sabemos que essas pessoas podem explodir o pico da glicose e ter alguma complicação da diabetes.

Além disso, outro efeito colateral é o aumento de peso, sensação de inchaço. 

Existe algum nutracêutico com efeito benéfico para artrose

  • Colágeno Tipo II
  • Garra do Diabo 
  • Diacereína 

Esses nutracêuticos, além de uma série que estão entrando no mercado. 

Nenhum desses tem um nível de evidência suficiente para prescreverem. O que dizem as grandes sociedades que estudam a cartilagem? É dito que se optado por entrar com esse tipo de medicamento, primeiro é necessário que os sintomas existam, como a dor e a doença cartilaginosa e se realmente optar por entrar com a medicação, o ideal é manter por até 6 meses. Se depois desses 6 meses o paciente não tiver apresentado algum tipo de melhora significativa, as sociedades médicas aconselham fortemente a descontinuar o uso da medicação. 

O que existe de evidência científica sobre o que chamamos de Fatores Modificáveis da Doença da Cartilagem?

A Infiltração com Ácido Hialurônico, principalmente de médio peso molecular. Que teoricamente penetrariam no tecido cartilaginoso e teoricamente reduziria a morte celular, além de reduzir a cascata inflamatória e vai fazer com que a cartilagem se degrade como um todo, o que chamamos de Sinovite Artrítica. Vários e vários estudos estão sendo publicados e demonstram uma alteração do nível de degradação da cartilagem e esse é um dos motivos que gosto e opto como uma das primeiras opções, se indicado, no tratamento conservador desse tipo de doença em pacientes que não tem indicação de cirurgia de forma concisa, ou seja, estão no limbo entre operar e não operar. 

Pessoas com microtrauma de repetição, como uma condropatia patelar como a condromalácia ou uma condropatia na tróclea, ou uma artrose, em geral são pessoas que se beneficiam da infiltração.

Doutor, você prescreve glicosamina e condroitina? 

Baseado na literatura e baseado na minha experiência (que é o nível 5 de evidência, não vejo vantagem no uso dessa medicação. No Brasil, essa é uma medicação muito cara e tem um custo benefício muito baixo, na minha opinião, por isso eu não prescrevo. Ao agir de maneira conservadora, opto por utilizar o ácido hialurônico e/ou uma boa reabilitação, modificação de hábitos diários como a alimentação, controle de peso, aumento da atividade física (com cuidado para não aumentar o impacto sobre a articulação) e busca, na verdade, ganho e melhoria da qualidade de vida. 

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3 Comentários

  1. Eu como farmacêutico que atua na farmácia comunitária, amei sua matéria, basicamente vim confirmar aqui o que já pensava desse suplemento. Eu acho que quando o médico avalia que um dado paciente não vai ser afetado pelos potenciais efeitos adversos desse produto e o mesmo paciente tem condições financeiras para manter a compra do produto pelo looooooongo período que será necessário para que seja constatada qualquer melhora, acho que vale a pena a experiência. Mas fico indignado com pessoas que vêm até a farmácia com tais prescrições e que são notoriamente pessoas de baixíssimo poder aquisitivo. Essas pessoas, se iniciarem o tratamento, o manterão por poucos meses, no máximo. Faço o meu papel na farmácia, passando todas essas informações ao paciente e dentre elas o aconselho a voltar ao médico ou a procurar outro profissional caso deseje outra abordagem terapêutica.

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