A retirada do menisco do joelho, seja ela total ou parcial, pode comprometer o retorno ao esporte? Existem muitas questões relacionadas a isso. O próprio retorno ao esporte, independentemente de qual seja a cirurgia, está relacionado a uma série de variáveis. No caso da retirada do menisco (meniscectomia), há muitos elementos a serem analisados.
O menisco tem funções importantes na funcionalidade. A transmissão de carga (amortecimento de impactos) é a mais conhecida e uma das principais. Mas não é a única.
Leia também: Conheça 5 sinais de lesão no menisco
Os meniscos também têm um papel importante na estabilização articular, propriocepção, lubrificação da articulação do joelho e distribuição de nutrientes.
Quando eles são retirados, aumenta-se em até 300% a sobrecarga e atrito entre os ossos do fêmur, patela, tíbia e fíbula, potencializando o risco de artrose.
Retirada do menisco, uma das últimas alternativas
Houve um tempo, em décadas passadas, onde a retirada radical de menisco era muito mais comum e até indicada. Porém, com o passar do tempo, evolução das técnicas de reconstrução de cartilagem e estudos longitudinais, ficou claro que a meniscectomia deve ser encarada como o último recurso, principalmente nas chamadas lesões degenerativas, onde o que se considera lesão pode fazer parte do envelhecimento desta estrutura.
Naturalmente, há casos onde não há muito o que se fazer e fatores como tempo da lesão, vascularização local, sexo, idade e comorbidades levam a meniscectomia como a única alternativa viável. Porém, existem técnicas como a sutura de menisco, que em muitos casos, é a mais indicada. A própria International Cartilage Repair Society (ICRS), preconiza que a sutura do menisco e reinserções de estruturas como o arrancamento da raiz do seu menisco em seus periódicos.
Sabemos que a incidência de doenças como artrose ou artrose unicompartimental, é muito aumentada em pacientes com retirada total do menisco.
Retirei meu menisco, posso praticar esporte?
Há alguns fatores que precisam ser avaliados aqui. Sabemos que existem esportes com maior ou menor impacto sobre a articulação do joelho.
Além disso, existe ainda a questão da forma como se pratica o esporte. Se for profissional, a abordagem é uma. Se for amador, mas competitivo, é outra. Ou ainda, se for apenas recreativo, é outra.
Em linhas gerais, a retirada do menisco não contraindica o retorno a nenhum esporte. Mas, sem dúvidas, no período pós-operatório, um estudo biomecânico de como o paciente se movimenta em determinada modalidade esportiva deve ser sempre realizado no intuito da redução do excesso de pressão de contato na área operada.
Na dúvida da evolução pós-operatória, onde o mais indicado é a troca do esporte. Por exemplo, um corredor, jovem, que por razões variadas, precise retirar o menisco, deve avaliar com mais cuidado seu retorno ao esporte, do que um nadador.
Quais os fatores a serem analisados no retorno ao esporte após a retirada do menisco?
Perfil do atleta
Se o atleta em questão, que realizou a meniscectomia for um profissional, de esportes de impacto, como um maratonista, o protocolo de volta ao esporte será muito diferente de um amador, por exemplo. Nesses casos, a própria memória muscular do indivíduo protege a articulação e permite um retorno mais precoce.
Maturidade muscular
Um sedentário, que joga futebol aos finais de semana, terá muito mais propensão a desenvolver problemas cartilaginosos, ao retornar ao esporte, do que um atleta bem treinado.
O nível de controle muscular é fundamental para que o joelho, mesmo sem o menisco, esteja mais estável e o impacto seja reduzido.
Por isso, pessoas sedentárias que retiram o menisco, tem de tomar muito mais cuidado ao iniciar um esporte.
Idade
Um paciente que tenha, por exemplo, 50 anos, terá uma chance “menor” de desenvolver artrose, do que um jovem de 20 anos, que retira o menisco. Sim, você não leu errado! Quando maior o tempo sem o menisco, maiores as chances de desenvolver impacto ósseo e com isso, artrose.
Condições pré-existentes podem acelerar ou não este processo
Tipo do esporte
Uma retirada total de menisco torna o retorno ao esporte de um corredor, muito mais complexa do que o de um nadador ou ciclista, por exemplo.
Esportes de contato, com muita desaceleração e troca de direção, também exigem mais do joelho e consequentemente, trazem mais danos sem a presença do menisco.
Então, a análise da mecânica do esporte e do quanto ela será afetada pela falta do menisco, também é um fator importante.
Leia também: Técnica de sutura pode “salvar” o menisco lesionado
Peso controlado
Pessoas acima do peso, têm maiores riscos de desenvolver artrose. Se houver a retirada do menisco, as chances aumentam substancialmente. Então, se o paciente está acima do peso, o mais indicado é um processo de emagrecimento, antes do retorno ao esporte.
Pós-operatório, fisioterapia e periodização
A meniscectomia em si, não é uma cirurgia das mais complexas. Porém, ela precisa ser muito bem conduzida.
O que vai fazer com que o retorno ao esporte seja bem-sucedido ou não, na maioria dos casos, é a cirurgia realizada corretamente e um pós-operatório de excelência.
Cirurgia bem feita, fisioterapia específica e de qualidade e treino periodizado, com progressão de cargas e impacto, são fundamentais neste processo. Sem isso, cedo ou tarde, os problemas irão aparecer.
Neste sentido, o trabalho multidisciplinar é de suma importância para o retorno ao esporte.
O retorno ao esporte do paciente com meniscectomia envolve uma série de questões e é importantíssimo que haja uma equipe multidisciplinar envolvida nele.
Para entender melhor todo este contexto, veja este vídeo onde falei sobre lesões no menisco e tudo o que diz respeito ao tema!