Que exercícios para quem tem artrose são mais indicados? A artrose, considerada pela OMS como a doença mais prevalente na população mundial, possui diversos sinais de sintomas como dor, deformidade, inchaço, rigidez e atrofia muscular. A perda da qualidade de vida, surgimento de doenças cardiovasculares, psiquiátricas e oncológicas e consequente redução da expectativa de vida  em portadores de artrose é bem documentada em inúmeros estudos. Por este motivo, existe um consenso na medicina do esporte de que portadores desta moléstia devem permanecer ATIVOS dentro do possível.

 

Mas, como já discuti em diversos artigos, como prescrever atividade física para uma pessoa que sente dor e que tem inchaço durante e após o movimento? Como inserir em uma rotina de treinamento alguém que nunca o fez e que tem medo do agravo dos sintomas? Quais os exercícios para quem tem artrose são de fato, indicados?

 

Vencendo obstáculos, um dos princípios dos exercícios para quem tem artrose

 

Existem diversas barreiras a serem vencidas antes de se prescrever atividade física para quem tem artrose. A quebre de cada uma delas é fundamental para o sucesso no tratamento:

 

  1. Troca de informações entre as 2 pontas: Aqui é muito simples. A grande maioria dos médicos não entende de treinamento e a maior parte dos profissionais da educação física não entende da doença articular. A falta de comunicação e de troca de informações, salvo em alguns raros casos, leva conflitos deixando claro ao paciente  que “cada um fala uma coisa”.  
  2. Vencer a cinesiofobia (medo do movimento): Sem duvidas, aqui é muito importante o papel do fisioterapeuta experiente que sabe trabalhar bem o início do fortalecimento e qualidade do movimento com controle da dor, reencaminhando o paciente a nós ortopedistas quando julgam necessária uma intervenção médica como uma viscossuplementação ou terapia avançada de controle de dor.
  3. Entender qual o melhor treinamento para que haja impacto em outras comorbidades como a hipertensão, hipercolesterolemia, asma, diabetes e doenças psiquiátricas. Para cada condição clínica, existe um volume e intensidade de treinamento aeróbico e anaeróbico (musculação) com benefícios diretos, inclusive com redução do uso de medicamentos. Isso é chamado em medicina esportiva de DOSE-RESPOSTA.
  4. Tirar o indivíduo do sedentarismo, ou seja, convencer quem sempre trocou os esportes por uma poltrona por falta de tempo ou vontade que agora sim é a hora de começar, mesmo com um desgaste avançado da cartilagem.
  5. No extremo oposto, convencer pessoas extremamente ativas a modificar a rotina de treinamento, adaptando o esporte ou trocando modalidades por outras a fim de se preservar a articulação desgastada, “driblar”sintomas, mantendo-se os benefícios do sedentarismo. 

 

Princípios do treinamento para quem possui artrose

 

Para saber quais são os exercícios para quem tem artrose, precisamos analisar o campo do treinamento. Pensando nos princípios básicos do treinamento e adaptando-os à ampla variabilidade de sintomas da artrose, temos o seguinte :

 

  1. Princípio da adaptação

 

Nosso corpo adapta-se a diferentes estímulos e os vai assimilando aos poucos e o resultado disso é que aquele esforço físico para determinado movimento seja cada vez menor.

Se,  em um indivíduo que goza de perfeita função cartilaginosa isso deve ser realizado aos poucos, em quem já tem artrose, a velocidade  deve ser ainda mais reduzida. Em outras palavras: não deve haver empolgação nem pelo paciente, nem pelo treinador. 

 

  1. Princípio da continuidade

 

O músculo é um órgão dispendioso, energeticamente falando, e para o manter ele tem de ser exercitado com regularidade, caso contrário será reduzido ao extremo. Isso é chamado em linguagem médica de sarcopenia. O estímulo de treino deve, por este motivo, ser repetido regularmente.

Aqui, pensando-se em ARTROSE, a possibilidade da recidiva de sintomas durante o exercício  deve ser prevista e superada. Por exemplo: uma pessoa que trata de artrose no joelho e sentiu dor ou inchaço no joelho após treinamento deve voltar à fisioterapia para controle de sintomas e MANTER treinamento de membros superiores em uma academia ou em aulas de natação ou hidroginástica. 

 

  1. Princípio da especificidade

 

Um estímulo específico induz uma resposta ou adaptação específica. Se um indivíduo deseja jogar tênis ou futebol, deve realizar um treinamento específico para isso. Isto quer dizer que se quisermos uma otimização da resposta hipertrófica do músculo, devemos dar um estímulo específico e não fazer, por exemplo, um treino aeróbio.

Aqui, pensando-se na Artrose, deve-se optar por manter a especificidade com o mínimo de agressão articular.

 

  1. Princípio da individualidade

 

 É o velho ditado de que “cada um é de um jeito”. Apesar da tendência geral dos seres humanos de responder da mesma forma a um estímulo, existem características individuais que modelam essa resposta, tais como fatores hormonais, genéticos ou mesmo anatómicos. 

Da mesma forma que cada um responde de maneira individual ao esporte, o mesmo acontece com o espectro de sintomas da artrose: para o mesmo grau da doença, muitos conseguem treinar bem e sem dor. Outros desenvolvem dor, inchaço e crepitação com mínimos esforços. 

Novamente aqui vale a estratégia da tentativa e erro: o treino deve ser modificado e jamais insistir caso o paciente tenha sintomas.

 

  1. Princípio da sobrecarga

 

O desafio imposto no nosso corpo deve ser realizado sempre de maneira diferente, pois, com o tempo este fica mais apto a superar os desafios impostos pelo treino e tendencialmente o estímulo deixa de ser desafiante o suficiente.

Pensando em artrose, a sobrecarga deve ser sempre muscular e cardiorrespiratória e minimamente  articular e, para se chegar nisso, novamente, vale a tentativa e erro e conhecimento pleno de metodologia e alternativas de treinamento.

 

  1. Princípio da reversibilidade

 

Este princípio vem da seguinte ideia: “o que não se usa, perde-se”. Em outras palavras, infelizmente, tudo o que se conseguiu em benefícios do treinamento pode ser perdido em semanas se o treinamento parar.

Como dito acima, o grande desafio é vencer os sintomas  e manter o paciente ativo. Apesar da recidiva de alguns deles ser comum, devem ser logo controlados, comumente retornando-se à reavaliação médica e a fisioterapia posteriormente, de volta ao treinador.

 

  1. Princípio da variabilidade

 

Este princípio refere que, quanto maior o tempo que realiza o mesmo treino, menos eficiente ele fica. Não importa o quão bom seja o treino, ele deve ser executado por um curto período. Em outras palavras: o treino não deve ser nunca confortável e deve ser sempre substituído. Um motivo a mais para que o treinador seja experiente e tenha “muitas cartas na manga”na condução do treinamento.

 

Existem diversas escalas para classificar  grau de artrose. De maneira mais simples e didática, costumo utilizar a escala da International Cartilage Repair and Joint Preservation (ICRS), na qual, a progressão da doença é dividida em 04 graus. Levando os princípios do treinamento descritos acima em consideração, segundo estudos publicados nos últimos 20 anos, a prescrição de exercícios pelo grau da artrose deve seguir as seguintes diretrizes:

 

ARTROSE GRAU 1

 

Aqui, praticamente não há limites.

O controle de sintomas deve ser feito por um bom fisioterapeuta e intervenções médicas como a viscossuplementação anuais podem minimizar o problema.

 

ARTROSE GRAU 2

 

O grau da condropatia está ligado a mais sintomas como dor e inchaço após o esporte.

O acompanhamento deve ser rigoroso e a substituição ou redução do volume de determinado esporte deve ser levado em consideração. Por exemplo: uma pessoa que pratica corrida de rua e tem 100% de seu condicionamento físico ligado ao esporte, pode dividir o treino aeróbico com natação e ciclismo. À medida que os sintomas vão cedendo,  o volume de treino de corrida pode ir aumentando até que se chegue a patamares desejados. 

 

ARTROSE GRAU 3

 

Quando a artrose atinge o nível 3, os sintomas já passam a causar limitações para atividades diárias como caminhar, subir e descer escadas e agachar. Quando se chega neste nível, o esporte deve ser completamente adaptado. Toda a intervenção médica deve ser direcionada ao amplo controle de sintomas como, por exemplo, a viscossuplementação, terapias celulares, hidrodissecção, drilling, bloqueios de dor em regime ambulatorial e em centro cirúrgico.

Técnicas cirúrgicas minimamente invasivas como a artroscopia visando a limpeza articular e fazer com que o paciente dobre e estique melhor o joelho e a subcondroplastia podem trazer grande alívio de sintomas e manter o indivíduo ativo.

Também nesta fase, em indivíduos ativos e abaixo dos 60 anos de idade, deve-se considerar a possibilidade de procedimentos como osteotomias varizantes ou valgizantes.

 

ARTROSE GRAU 4

 

Já no estágio final da doença, é muito comum já termos os pacientes submetidos a cirurgias como a prótese de joelho ou de quadril e entram protocolos de prescrição de atividades físicas para estas cirurgias. Aqui, técnicas de mínima agressão articular  como a hidroginástica, natação, pilates e musculação adaptada devem ser utilizadas, com atenção aos sintomas.

 

Exercícios para quem tem artrose 2

Mensagem final

 

A literatura é clara nos benefícios da prescrição de exercícios para portadores de artrose. A inatividade e o medo ao movimento devem ser amplamente combatidos. O treino deve ser prescrito de maneira individual e por equipe multidisciplinar. 

Eu falo mais sobre este tema, neste vídeo do meu canal no YouTube:

 

 

Referências bibliográficas:

 

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