Em relação a lesão do ligamento cruzado anterior, quem se machuca mais? Homens ou mulheres? 

Se você respondeu que os homens se lesionam mais, não está totalmente errado. Entretanto, estatisticamente e comparativamente para o mesmo esporte, as mulheres se lesionam mais que os homens.

Aqui no Brasil, assim como em outros países ocidentais, vemos muito mais homens sendo operados, mas ao ver estatísticas europeias em que as mulheres praticam mais esportes ou praticam esporte no mesmo nível competitivo que os homens. Também como em outros países da América do Norte como o Canadá e Estados Unidos, no futebol, existe uma taxa de ruptura do ligamento cruzado anterior 4 vezes maior em mulheres do que em homens. No basquete essa taxa chega de 5 a 6 vezes. Em esportes de contato como em lutas, esse valor chega a ser 7 a 8 vezes mais em mulheres. 

Por que a lesão do ligamento cruzado anterior ocorrem mais nas mulheres do que nos homens? 

Para explicar um pouco sobre isso, existem 3 mecanismos básicos que explicam esse fato. 

1 – Mecanismo Biomecânico 

Neuromuscular – o tempo de resposta de uma mulher na passada e aterrissagem é reduzido e é uma passada dessincronizada. 

A contração muscular do músculo anterior da coxa, o quadríceps, é mais rápida que a musculatura da pelve (principalmente o glúteo médio). Isso faz com que a mulher rode o joelho para dentro e gera o chamado Valgo Dinâmico. Hoje em dia o Valgo Dinâmico é a principal causa, segundo alguns autores, de lesões esportivas em mulheres. 

2 – Hormonal 

No período pré-menstrual o corpo feminino atinge o pico de produção de estrogênio que reduz a quantidade de proteína nos ligamentos. Nessa fase, além de reduzir o tamanho e a consistência dos ligamentos, existem estudos que mostram a piora da resposta neuromotora. Isso explica porque a grande maioria das mulheres se lesionam na segunda fase do ciclo menstrual, principalmente próximo à menstruação.

3 – Anatômico  

O formato da bacia da mulher gera uma angulação desfavorável para o joelho. Os ligamentos da mulher no geral são mais frouxos e menores que os dos homens e possuem menos colágeno. Numa mesma energia cinética, um ligamento que não se romperia no homem é rompido em uma mulher. 

 Existe algum cuidado pré e pós-operatório a mais com as mulheres? Sim e existem diversos estudos em relação a isso. Sabemos que a partir do momento que a mulher rompe o Ligamento Cruzado Anterior, o processo inflamatório e a formação de fibrose dentro do joelho é muito maior. O ideal é aguardar um pouco mais para operar esse Ligamento Cruzado Anterior comparando com o homem. 

Um homem que rompeu o ligamento cruzado hoje, pode, em alguns casos, indicar a cirurgia e fazê-la dentro de 2 a 3 semanas. Nas mulheres o ideal é esperar um pouco mais pois dentro do joelho, ela tende a formar mais fibrose. 

Se a ruptura for junto com o ligamento colateral medial, a taxa de fibrose e chance do joelho ficar mais duro, a dor que o pós-operatório pode ocasionar é muito maior. Diversos autores recomendam aguardar e fazer uma fisioterapia pré-operatória com bastante ganho de arco de movimento, eletroestimulação, analgesia para que ela possa ir para a mesa de cirurgia com mais tranquilidade. 

A técnica cirúrgica para a ruptura do ligamento cruzado é basicamente a mesma para o homem e para a mulher e existem alguns cuidados a mais em relação à força e rotação da broca quando fazem os túneis ósseos. O osso da mulher costuma ser um pouco mais frágil que o do homem, então, é necessária cautela ao operar. 

O transoperatório (momento da operação) é um pouco mais fácil pois existe menos resistência e o enxerto é mais fácil de ser retirado. O pós-operatório imediato é praticamente o mesmo. 

É necessário manter-se na muleta por 2 semanas, no geral, e fazer a fisioterapia o mais precoce possível junto à hidroterapia. 

Existe uma série de cuidados pós-operatórios a partir do 4º mês para a lesão do ligamento cruzado anterior. 

A partir do 4º mês, ao iniciar a fase de fortalecimento, sabe-se que a mulher tem uma dificuldade maior no ganho de massa muscular tanto pelo nível de testosterona mais baixo, quanto pela inervação. Começamos a tratar o distúrbio biomecânico, principalmente o valgo dinâmico e a partir do 6º mês, começa o que chamamos de fase preventiva. 

Fase preventiva para a lesão do ligamento cruzado anterior

É muito importante ter cuidado com a aceleração e desaceleração e aterrissagem da mulher. O fisioterapeuta deve focar bastante e forçar o sincronismo da musculatura da coxa em relação à musculatura do glúteo médio que é a musculatura do quadril. 

Retorno ao esporte após a lesão do ligamento cruzado anterior

O retorno ao esporte da mulher deve ser um pouco mais lento que o do homem pois existe uma chance de nova ruptura. No período tanto pré-operatório quanto pós-operatório, é importante avaliar o uso de algum anticoncepcional ou de qualquer outra reposição hormonal e se realmente estiver em uso, avaliar a inibição da resposta anabólica no período pós-operatório, em conjunto com a equipe de Ginecologia que está acompanhando, pode ou não fazer a troca dessa medicação para não inibir tanto. 

O retorno ao esporte é feito no que chamamos de período de transição, após o sexto mês começamos a treinar o gesto esportivo e são aplicados testes funcionais que podem tanto ser aplicados pela equipe de fisioterapia, quanto por educador físico. Nesses testes funcionais, avalia-se a rapidez e agilidade neuromotora, além de testes isocinéticos. Essa mulher estando totalmente reabilitada, com força, sem dor e sem nenhum distúrbio biomecânico, com testes isocinéticos totalmente normais, há a reintrodução ao esporte. Saiba mais: 10 Perguntas frequentes sobre a lesão do ligamento cruzado anterior

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